Reciclemos!

2006/01/23

Os autores de discursos são uns brincalhões

Quem escreve os discursos tem sempre muita atenção às palavras e, por vezes, gosta de pregar pequenos sustos aos adversários, sobretudo se estes foram derrotados.

Atente-se, por exemplo, no discurso de Cavaco Silva:
"Neste exacto momento dissolve-se a maioria (centésimos de segundo asfixiantes para os socialistas, que aguardam apreensivos pelas palavras seguintes) que me elegeu (suspiros de alívio e regresso dos batimentos cardíacos). Quero ser e serei o Presidente de todos os portugueses."

A importância dos candidatos excluídos

Cavaco venceu à primeira, com mais 64.138 votos do que todos os seus adversários juntos. De certo modo foi à tangente, sobretudo se pensarmos que 58.868 pessoas optaram por votar em branco e 43.405 anularam o seu voto.

Quantos destes eleitores que votaram branco ou nulo estariam com vontade de votar em Manuela Magno, Luís Filipe Guerra ou Botelho Ribeiro, três dos candidatos que foram excluídos por questões burocráticas? E quantos dos apoiantes destes candidatos terão ficado em casa, a contribuir para as estatísticas da abstenção?

Nunca saberemos as respostas a estas perguntas. Todavia, se Manuela Magno e companhia tivessem sido aceites poderiamos ter agora como cenário uma segunda volta. Afinal, se Garcia Pereira obteve 23.650 votos sozinho, porque não se reuniriam 64.139 votos em torno de mais três candidatos alternativos?

2006/01/22

Um não lê jornais, o outro não vê televisão

A transmissão televisiva do discurso de Manuel Alegre - o segundo candidato mais votado nas Presidenciais - foi interrompido para dar voz a José Sócrates - que nem sequer era candidato.
Após forte reprimenda de Helena Roseta, a SIC fez um mea culpa e passou depois em diferido o discurso de Alegre na íntegra.
Momentos depois emitiu também a explicação oficial do primeiro-ministro, que afirmou que não sabia que Alegre estava a discursar. Só temos de acreditar, pois Sócrates não nos ia mentir em assunto tão sério, nem seria mesquinho a ponto de tentar - e conseguir - levar as televisões a "calar" Alegre.

Se já sabemos de outros tempos que o novo Presidente da República não lê jornais, depois desta explicação oficial ficamos a saber que o primeiro-ministro não vê televisão. A comunicação social que tire as devidas ilações destes comportamentos.

Reality show
Mas se muito se falou do silenciamento de Alegre, pouco se disse acerca da forma como a televisão também interrompeu o discurso de Jerónimo de Sousa, optando por transmitir imagens de Cavaco a sair de casa.
Silencioso como Cavaco andou durante a campanha, alguém esperava que ele falasse à saída de casa, quando nem sequer tinha um local estável onde pousar o discurso?
E que dizer da câmara que a SIC apontou a uma janela da casa particular do candidato vencedor? Estávamos perante a transmissão de uma eleição presidencial ou de uma final do Big Brother?

2006/01/18

Histórias mínimas - O Peso

Tudo indicava que estava a perder peso. As tonturas constantes, o cansaço recorrente, a roupa larguíssima. Porém, a balança nada acusava. O seu peso continuava igual há meses. Só havia uma hipótese válida: o peso que tinha na consciência de não ir ao médico ver o que se passava com a sua saúde influenciava os valores da balança.